Macroinvertebrados Aquáticos como Bioindicadores
Os ecossistemas aquáticos têm sido alterados de maneira significativa devido a múltiplos impactos ambientais resultantes de atividades mineradoras; construção de barragens e represas; retificação e desvio do curso natural de rios; lançamento de efluentes domésticos e industriais não tratados; desmatamento e uso inadequado do solo em regiões ripárias e planícies de inundação; exploração de recursos pesqueiros e introdução de espécies exóticas. Impactos antropogênicos estão reduzindo a qualidade da água e a biodiversidade de água doce. Portanto, Cangani et al (2008) destaca que o primeiro passo para a resolução dos problemas sócio-ambientais gerados pela má gestão dos recursos hídricos é o desenvolvimento e aplicação de metodologias de diagnóstico eficientes.
Alguns invertebrados aquáticos podem indicar a qualidade dos habitats dos ecossistemas de água doce. Vamos falar aqui sobre os macroinvertebrados bentônicos. Macroinvertebrados bentônicos são organismos que habitam o fundo de ecossistemas aquáticos durante parte ou a totalidade do seu ciclo de vida, associado aos mais diversos tipos de substratos, tanto orgânicos como inorgânicos. Esses organismos estão relacionados com o enriquecimento orgânico dos corpos aquáticos e apresentam grande eficácia, para monitoramentos, devido à sua baixa motilidade, grande abundância, alta longevidade e baixo custo dos métodos empregados em seu estudo, além da fácil implementação e obtenção de informações que podem ser sumarizadas e interpretadas por não especialistas (QUEIROZ; TRIVINHO-STRIXINO; NASCIMENTO, 2000; ROQUE; TRIVINHO-STRIXINO, 2000). Os macroinvertebrados bentônicos têm sido amplamente utilizados como bioindicadores de qualidade ambiental, visto que permitem uma avaliação integrada dos efeitos ecológicos provocados por múltiplas fontes de poluição, devido à sensibilidade de determinados organismos às perturbações ocorridas nos corpos hídricos (Cardoso & Novaes, 2013) e são encontrados em quase todos os tipos de habitats de água doce e, em diferentes condições ambientais (ESTEVES, 1988).
Além disso, o uso dos bioindicadores é mais eficiente do que as medidas instantâneas de parâmetros físicos e químicos (p.ex. temperatura, pH, oxigênio dissolvido, etc) que são normalmente medidos no campo e utilizados para avaliar a qualidade das águas. A Agência de Controle Ambiental dos Estados Unidos (U.S. Environmental Protection Agency – USEPA) e a Diretriz da União Européia (94C 222/06, 10 de agosto de 1994) recomendam a utilização de bioindicadores como complemento às informações sobre a qualidade das águas (GOULART & CALLISTO, 2003).
O que eles indicam na prática?
Segundo Goulart & Callisto (2003), os macroinvertebrados bentônicos podem ser classificados em três grupos (em relação à tolerância ambiental): organismos sensíveis ou intolerantes, organismos tolerantes e organismos resistentes (podendo existir exceções dentro de cada grupo). O primeiro grupo engloba representantes das ordens de insetos aquáticos Ephemeroptera, Trichoptera e Plecoptera, e são caracterizados por organismos que apresentam necessidade de elevadas concentrações de oxigênio dissolvido na água. Normalmente são habitantes de ambientes com alta diversidade de habitats e microhabitats. O segundo grupo é formado por uma ampla variedade de insetos aquáticos e outros invertebrados, incluindo moluscos, bivalves, algumas famílias de Diptera, e principalmente por representantes das ordens Heteroptera, Odonata e Coleoptera, embora algumas espécies destes grupos sejam habitantes típicos de ambientes não poluídos. A necessidade de concentrações elevadas de oxigênio dissolvido é menor, uma vez que parte dos representantes deste grupo, como os Heteroptera, adultos de Coleoptera e alguns Pulmonata (Gastropoda) utilizam o oxigênio atmosférico. O requerimento da diversidade de hábitats e microhábitats também diminui, em função de uma maior plasticidade do grupo (muitos heterópteros e coleópteros vivem na lâmina d’água ou interface coluna d’água-superfície). O terceiro grupo é formado por organismos extremamente tolerantes, assim chamados de resistentes. São formados principalmente por larvas de Chironomidae e outros Diptera e incluindo toda a classe Oligochaeta. Estes podem ser encontrados em ambientes com condição de anóxia (depleção total de oxigênio) por várias horas. Além disso são organismos detritívoros, se alimentando de matéria orgânica depositada no sedimento, o que favorece a sua adaptação aos mais diversos ambientes. Tanto os Oligochaeta, quantos os Chironomidae, são organismos de hábito fossorial, não possuindo nenhum tipo de exigência quanto à diversidade de hábitats e microhábitats. Portanto, sua presença ou ausência pode ser interpretada como sinais de mudanças no ambiente ou ajudar a diagnosticar as causas de um problema ambiental.
Principais Fontes:
GOULART, M.D. & CALLISTO, M. 2003. Bioindicadores de qualidade de água como ferramenta em estudos de impacto ambiental. Revista FAPAM, ano 2, n1.
CANGANI, M. T.; POLEGATTO, J. C.; ROCHA, R. R. A. 2008. Monitoramento e análise da qualidade da água a partir de variáveis limnológicas. Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unoeste – ENEPE. Presidente Prudente,. Disponível em:<http://www.unoeste.br/site/pos/enepe/anais/2008/docs/posteres/enapi/expandido/Expandido ExatasGeoci%C3%AAncias PosterPesquisa.
Cardoso, R. S. & Novaes, C. P. 2013. Variáveis Limnológicas e marcroinvertebrados bentônicos como bioindicadores de qualidade da água. Revista Nacional de Gerenciamento de Cidades, v. 01, n. 05, pp. 16-35.
ESTEVES, F. A. (1998). Fundamentos de Limnologia. 2ª edição. Rio de Janeiro: editora Interciência, 602 p.
QUEIROZ, J. F.; TRIVINHO-STRIXINO, S.; NASCIMENTO, V. M. C. 2000. Organismos bentônicos bioindicadores da qualidade de água da bacia do médio São Francisco. (Comunicado técnico) São Paulo: EMBRAPA MEIO AMBIENTE.
ROQUE, F. O.; TRIVINHO-STRIXINO, S. Avaliação preliminar da qualidade da água dos córregos do município de Luis Antônio (SP) utilizando macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores: subsídios para o monitoramento ambiental. Puc Sp Ciências Biológicas e do Ambiente, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 21-34, 2000.
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